quarta-feira, 21 de maio de 2014

Por que os alunos de economia se revoltaram (e o que querem)

Estudantes que apoiam o movimento pela reforma do ensino de economia se reúnem em Londres

Reproduzo na íntegra essa matéria, pois apoio incondicionalmente como economista e como professora. 

Manifesto assinada por 65 associações acadêmicas de 21 países pede para que "o mundo real seja trazido de volta" para as aulas de economia (publicado por revista exame)

"Não é apenas a economia mundial que está em crise. O ensino de economia também está, e as consequências disso vão muito além do âmbito acadêmico."
É assim que começa uma carta aberta assinada pelo ISIPE (sigla em inglês para Iniciativa Internacional de Estudantes para o Pluralismo Econômico) e divulgada no início do mês.

O grupo é formado por 65 associações de 21 diferentes países - entre eles Estados Unidos, Rússia, Índia e Reino Unido. O Instituto Nova Ágora, ONG que promove projetos de cidadania, assina pelo Brasil.

Os estudantes afirmam que o currículo da disciplina sofreu um "estreitamento dramático" nas últimas duas décadas e que isso prejudica a habilidade dos formados de encontrar soluções para os desafios do século XXI - como a "estabilidade financeira, a segurança alimentar e o aquecimento global".

Pluralismo

Eles pedem três tipos de pluralismo. O primeiro é teórico: a ideia é que o ensino deveria expor os alunos a perspectivas econômicas variadas - clássica, pós-keynesiana, marxista, institucional, ecológica, feminista - que hoje são excluídas em favor de uma visão única (a neoclássica).

Afinal, "ninguém levaria a sério um curso superior em psicologia que focasse apenas no Freudismo"

O segundo pluralismo é metodológico: a crítica é que hoje os estudantes só aprendem métodos quantitativos e nunca são expostos a métodos qualitativos que os fariam questionar seus pressupostos e conclusões.

O terceiro pluralismo é interdisciplinar: "economia é uma ciência social: fenômenos econômicos complexos raramente podem ser entendidos se apresentados em um vácuo, removidos do seu contexto histórico, político e sociológico."

Movimento

Esta não é a primeira iniciativa do tipo: a crise de 2008 causou um surto de reflexão em todas as facetas do mundo econômico, incluindo a educação.

Já no ano seguinte, o Instituto para o Novo Pensamento Econômico (INET) foi fundado com o apoio de figuras como George Soros e Paul Volcker. Entre seus objetivos está estimular a renovação da pesquisa e do currículo de economia.

Em 2011, estudantes de Harvard explicaram em outra carta aberta sua decisão de deixar o curso introdutório do professor Greg Mankiw.

No ano seguinte, estudantes da Universidade de Manchester começaram a Post-Crash Economics Society com o lema "o mundo mudou; a apostila, não". Outro grupo, o CORE-ECON, defende um ensino "como se as últimas três décadas tivessem acontecido".

Debate
Thomas Piketty, o economista francês que virou a sensação do momento com o livro "O Capital no Século XXI", diz que a disciplina "precisa superar sua paixão infantil por matemática e por especulação puramente teórica e com frequência altamente ideológica, em detrimento de pesquisa histórica e colaboração com outras ciências sociais".

Para o americano Paul Krugman, vencedor do Nobel de economia, a teoria keynesiana já trazia as ferramentas necessárias para diagnosticar e superar a crise financeira.

O ensino precisa rebalancear seu foco, sim, mas o problema maior foi que os políticos escolheram seletivamente as teses que cabiam nos seus interesses - como a de que austeridade levaria a crescimento no contexto de uma economia em depressão.

O manifesto do ISIPE diz que "a mudança será difícil - sempre é", mas a ideia é que assim como o ensino, o debate ultrapasse os muros da universidade.

Afinal, como escreveu o economista Paul Samuelson, "não me importo com quem escreve as leis de um país ou faz seus tratados, desde que eu possa escrever seus livros didáticos de economia."

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