CARTA ABERTA DOS PROFESSORES DO CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DAS FACULDADES INTEGRADAS SANTA CRUZ DE CURITIBA A TODOS OS ECONOMISTAS DO BRASIL
O curso de Ciências Econômicas foi regulamentado no Brasil em 13 de agosto de 1951, pela Lei nº 1.411. Esta lei estabeleceu as normas de sua organização, através dos Conselhos Federais e Regionais de Economistas Profissionais. Porém, bem antes dessa institucionalização, ainda no século XVIII, o estudo da ciência econômica já se demonstrava fundamental, inclusive para o entendimento de outras áreas. Na verdade, é possível considerar que, ao longo da História, o pensamento econômico foi importante para nortear as dinâmicas financeiras e políticas das sociedades.
Por exemplo, por volta do ano 1700 a. C., José do Egito interpretou o sonho do Faraó e foi convidado a administrar o Reino do Baixo Egito. José coordenou a construção de “cidades silos”, organizou a produção agrícola sem precedentes na época, comprou o Alto Egito para o Faraó, utilizando como moeda produtos agrícolas. Para isso, conheceu as questões políticas do Egito, seus costumes, os períodos de produção e a fertilidade das terras. Não utilizou escravos, e sim trabalho assalariado. Em resumo, além de fazer gestão, utilizou conhecimentos econômicos sobre as necessidades produtivas e de consumo da época.
No Brasil contemporâneo, as motivações para se tentar entender melhor a Economia são inúmeras: a preocupação com as finanças familiares, a necessidade de compreender a gestão pública, a intervenção estatal na economia, os planos econômicos e reestruturações produtivas do país, o que produzir e como produzir, o comportamento dos agentes econômicos. O conceito de Economia não passa “pela administração de recursos escassos?”. Pois bem, os raciocínios inerentes a essa disciplina estão, pois, presentes nas decisões do consumidor, das pequenas, médias e grandes empresas, nos processos produtivos, na utilização de fatores, ou seja, nas funções de consumo e de produção.
Atualmente, todos os meios de comunicação possuem espaços econômicos. Na imprensa falada e escrita, em rádios, jornais e portais virtuais, sempre há um economista se posicionando perante realidades, mudanças ou impactos de determinadas medidas no meio social. Nunca, também, se comentou tanto sobre economia. A preocupação com os juros, a variação dos indicadores das bolsas de valores, as finanças pessoais tornaram-se temas correntes de debate, e a educação financeira hoje ocupa destaque em todos os meios de comunicação. Porém não observamos economistas se posicionarem sobre as questões de produção no sentido microeconômico, sobre a competitividade, sobre custos de produção. Parece que isso ficou à cargo da administração, mas não são ciências isoladas.
Nesse mesmo sentido, o mercado editorial está repleto de títulos sobre o tema. Muitos deles, inclusive, viraram best-sellers, como o despretensioso Freakonomics, de autoria do Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner, autores que ensinaram multidões a abordar a ciência econômica de uma forma lúdica e simples. Contudo, de modo geral, pode se afirmar que ainda haja falta de publicações sobre temas que contemplem economia de empresas, no sentido de possibilitar os empreendedores a entender mais sobre as potencialidades de produção, sobre a prática da economia do trabalho na empresa, sobre o mercado, etc. Em outras palavras, as publicações econômicas são prevalentemente teóricas e não práticas.
Embora o ambiente atual seja fértil para discussões econômicas, os números do censo do Ensino Superior brasileiro mostram uma realidade perversa: a cada ano, menos alunos cursam Economia.
Em 1995, o número de alunos matriculados nos cursos de ciências econômicas das Instituições de Ensino Superior - particulares, estatais ou federais - era de 67.664; em 2011, esse número caiu para 51.498. Houve diminuição de 24% no número de matriculados no curso de Economia. Número que toma dimensões alarmantes, quando confrontado com os dos dados do ensino superior em geral: no mesmo período (1995-2011), o número de matriculados no ensino superior como um todo aumentou em 227%. Esse foi, precisamente, o período em que os cursos superiores no Brasil, de modo geral, se expandiram de forma vertiginosa.
Passando à análise específica dos cursos de Economia das instituições privadas, constatamos uma queda ainda maior do número de ingressantes. De 1995 a 2011, o número de alunos matriculados caiu em 55%. Ou seja, perderam-se mais da metade de matriculados em economia, enquanto os outros cursos das ciências sociais aplicadas atingiam números expressivos de alunos.
Esta realidade é sentida em todos os estados brasileiros. O número de cursos de Ciências Econômicas tende a diminuir. Nas IES particulares, então, é praticamente um desafio achar cursos de Economia ainda ativos. Somente na cidade de Curitiba, em 2000, existiam oito estabelecimentos que ofereciam o curso. Já em 2014, somente quatro IES conseguem formar turmas de calouros com um número mínimo de alunos matriculados.
Vivemos, portanto, um cenário contraditório: por um lado, a profissão e a aplicação dos conhecimentos que ela fornece estão em franca evidência; por outro, poucos são os jovens que querem ser economistas.
Acreditamos que grande parte do problema de falta de demanda pelos cursos superiores de Economia resida em nós mesmos, economistas. Não há clareza, para o possível candidato ao curso, sobre o que um economista realmente faz. Em todas as opções possíveis de atuação divulgadas pelos órgãos de classe (planejamento, orçamento, análise de viabilidade, finanças, análise de tendência, serviço público), há ainda a falta do pragmatismo que é evidenciado em outras profissões de áreas do conhecimento afins à nossa. Afinal, a percepção dos jovens candidatos não raro caminha por noções genéricas: um Contador faz balanços e um Administrador, administra. O que faria, então, um economista? Economizaria?
A suposta falta de apelo da nossa profissão é, muito provavelmente, não mais que falta de informação sobre o que realmente o economista pode e deve fazer. Algo que se resolveria facilmente ante, por exemplo, a uma ação mais efetiva de todos os órgãos de classe. Anualmente, desenvolvem-se simplesmente as mesmas ações de divulgação da profissão, já sem efeitos plausíveis. Ao mesmo tempo, a ausência do aporte constante de novos economistas ameaça até mesmo a sustentabilidade econômica desses órgãos, que existem graças às anuidades pagas pelos profissionais registrados.
Dentro da mesma problemática, o próprio mercado de trabalho, pouco entende da utilidade da profissão de um economista. As ofertas de vagas de trabalho, dadas pelos setores de Recursos Humanos, pouco fazem referência à profissão nas suas ofertas, o que desmotiva, evidentemente, qualquer aspirante à carreira.
Ao longo dos 18 anos de funcionamento do curso de Ciências Econômicas em nossa faculdade, nós, professores, lutamos de todas as formas para conseguir reverter a daninha realidade manifesta na diminuição de demanda pelo nosso curso. Efetuamos mudanças na matriz curricular (obviamente, sem comprometer as Diretrizes Nacionais do Curso), oferecemos ênfases em disciplinas e assuntos interessantes ao mercado, realizamos eventos de divulgação. Sem maiores efeitos, porém.
Do mesmo modo, procuramos atuar nas mídias sociais e promover a participação maciça do nosso quadro de professores na imprensa, a fim de divulgar a importância da Economia e do economista. Pouco esses esforços rendem, contudo, sem o franco e efetivo apoio da classe.
Economia é uma ciência social aplicada, mas carrega uma multidisciplinaridade não encontrada em outras profissões. Este é um caminho que ainda não foi explorado.
O objetivo desta carta não é apontar culpados pela queda do número de alunos que cursam economia, e sim acender uma chama de esperança, destacar a necessidade de ação nesse sentido. Revalorizar a profissão de economista é uma tarefa a ser compartilhada por todos os que a amamos. Cursos de Economia do Brasil, economistas atuantes, conselhos de classe, professores e alunos do curso serão devidamente compreendidos e respeitados, se todos trabalharmos por isso. Precisamos urgentemente voltar a colocar a nossa profissão dentre as escolhas para jovens que ingressam na universidade.
E se esta carta servir de reflexão para o início de uma mudança, ela terá cumprido, desde já, o seu objetivo.
Atenciosamente,
Professores do Departamento de Economia das
Faculdades Integradas Santa Cruz
O curso de Ciências Econômicas foi regulamentado no Brasil em 13 de agosto de 1951, pela Lei nº 1.411. Esta lei estabeleceu as normas de sua organização, através dos Conselhos Federais e Regionais de Economistas Profissionais. Porém, bem antes dessa institucionalização, ainda no século XVIII, o estudo da ciência econômica já se demonstrava fundamental, inclusive para o entendimento de outras áreas. Na verdade, é possível considerar que, ao longo da História, o pensamento econômico foi importante para nortear as dinâmicas financeiras e políticas das sociedades.
Por exemplo, por volta do ano 1700 a. C., José do Egito interpretou o sonho do Faraó e foi convidado a administrar o Reino do Baixo Egito. José coordenou a construção de “cidades silos”, organizou a produção agrícola sem precedentes na época, comprou o Alto Egito para o Faraó, utilizando como moeda produtos agrícolas. Para isso, conheceu as questões políticas do Egito, seus costumes, os períodos de produção e a fertilidade das terras. Não utilizou escravos, e sim trabalho assalariado. Em resumo, além de fazer gestão, utilizou conhecimentos econômicos sobre as necessidades produtivas e de consumo da época.
No Brasil contemporâneo, as motivações para se tentar entender melhor a Economia são inúmeras: a preocupação com as finanças familiares, a necessidade de compreender a gestão pública, a intervenção estatal na economia, os planos econômicos e reestruturações produtivas do país, o que produzir e como produzir, o comportamento dos agentes econômicos. O conceito de Economia não passa “pela administração de recursos escassos?”. Pois bem, os raciocínios inerentes a essa disciplina estão, pois, presentes nas decisões do consumidor, das pequenas, médias e grandes empresas, nos processos produtivos, na utilização de fatores, ou seja, nas funções de consumo e de produção.
Atualmente, todos os meios de comunicação possuem espaços econômicos. Na imprensa falada e escrita, em rádios, jornais e portais virtuais, sempre há um economista se posicionando perante realidades, mudanças ou impactos de determinadas medidas no meio social. Nunca, também, se comentou tanto sobre economia. A preocupação com os juros, a variação dos indicadores das bolsas de valores, as finanças pessoais tornaram-se temas correntes de debate, e a educação financeira hoje ocupa destaque em todos os meios de comunicação. Porém não observamos economistas se posicionarem sobre as questões de produção no sentido microeconômico, sobre a competitividade, sobre custos de produção. Parece que isso ficou à cargo da administração, mas não são ciências isoladas.
Nesse mesmo sentido, o mercado editorial está repleto de títulos sobre o tema. Muitos deles, inclusive, viraram best-sellers, como o despretensioso Freakonomics, de autoria do Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner, autores que ensinaram multidões a abordar a ciência econômica de uma forma lúdica e simples. Contudo, de modo geral, pode se afirmar que ainda haja falta de publicações sobre temas que contemplem economia de empresas, no sentido de possibilitar os empreendedores a entender mais sobre as potencialidades de produção, sobre a prática da economia do trabalho na empresa, sobre o mercado, etc. Em outras palavras, as publicações econômicas são prevalentemente teóricas e não práticas.
Embora o ambiente atual seja fértil para discussões econômicas, os números do censo do Ensino Superior brasileiro mostram uma realidade perversa: a cada ano, menos alunos cursam Economia.
Em 1995, o número de alunos matriculados nos cursos de ciências econômicas das Instituições de Ensino Superior - particulares, estatais ou federais - era de 67.664; em 2011, esse número caiu para 51.498. Houve diminuição de 24% no número de matriculados no curso de Economia. Número que toma dimensões alarmantes, quando confrontado com os dos dados do ensino superior em geral: no mesmo período (1995-2011), o número de matriculados no ensino superior como um todo aumentou em 227%. Esse foi, precisamente, o período em que os cursos superiores no Brasil, de modo geral, se expandiram de forma vertiginosa.
Passando à análise específica dos cursos de Economia das instituições privadas, constatamos uma queda ainda maior do número de ingressantes. De 1995 a 2011, o número de alunos matriculados caiu em 55%. Ou seja, perderam-se mais da metade de matriculados em economia, enquanto os outros cursos das ciências sociais aplicadas atingiam números expressivos de alunos.
Esta realidade é sentida em todos os estados brasileiros. O número de cursos de Ciências Econômicas tende a diminuir. Nas IES particulares, então, é praticamente um desafio achar cursos de Economia ainda ativos. Somente na cidade de Curitiba, em 2000, existiam oito estabelecimentos que ofereciam o curso. Já em 2014, somente quatro IES conseguem formar turmas de calouros com um número mínimo de alunos matriculados.
Vivemos, portanto, um cenário contraditório: por um lado, a profissão e a aplicação dos conhecimentos que ela fornece estão em franca evidência; por outro, poucos são os jovens que querem ser economistas.
Acreditamos que grande parte do problema de falta de demanda pelos cursos superiores de Economia resida em nós mesmos, economistas. Não há clareza, para o possível candidato ao curso, sobre o que um economista realmente faz. Em todas as opções possíveis de atuação divulgadas pelos órgãos de classe (planejamento, orçamento, análise de viabilidade, finanças, análise de tendência, serviço público), há ainda a falta do pragmatismo que é evidenciado em outras profissões de áreas do conhecimento afins à nossa. Afinal, a percepção dos jovens candidatos não raro caminha por noções genéricas: um Contador faz balanços e um Administrador, administra. O que faria, então, um economista? Economizaria?
A suposta falta de apelo da nossa profissão é, muito provavelmente, não mais que falta de informação sobre o que realmente o economista pode e deve fazer. Algo que se resolveria facilmente ante, por exemplo, a uma ação mais efetiva de todos os órgãos de classe. Anualmente, desenvolvem-se simplesmente as mesmas ações de divulgação da profissão, já sem efeitos plausíveis. Ao mesmo tempo, a ausência do aporte constante de novos economistas ameaça até mesmo a sustentabilidade econômica desses órgãos, que existem graças às anuidades pagas pelos profissionais registrados.
Dentro da mesma problemática, o próprio mercado de trabalho, pouco entende da utilidade da profissão de um economista. As ofertas de vagas de trabalho, dadas pelos setores de Recursos Humanos, pouco fazem referência à profissão nas suas ofertas, o que desmotiva, evidentemente, qualquer aspirante à carreira.
Ao longo dos 18 anos de funcionamento do curso de Ciências Econômicas em nossa faculdade, nós, professores, lutamos de todas as formas para conseguir reverter a daninha realidade manifesta na diminuição de demanda pelo nosso curso. Efetuamos mudanças na matriz curricular (obviamente, sem comprometer as Diretrizes Nacionais do Curso), oferecemos ênfases em disciplinas e assuntos interessantes ao mercado, realizamos eventos de divulgação. Sem maiores efeitos, porém.
Do mesmo modo, procuramos atuar nas mídias sociais e promover a participação maciça do nosso quadro de professores na imprensa, a fim de divulgar a importância da Economia e do economista. Pouco esses esforços rendem, contudo, sem o franco e efetivo apoio da classe.
Economia é uma ciência social aplicada, mas carrega uma multidisciplinaridade não encontrada em outras profissões. Este é um caminho que ainda não foi explorado.
O objetivo desta carta não é apontar culpados pela queda do número de alunos que cursam economia, e sim acender uma chama de esperança, destacar a necessidade de ação nesse sentido. Revalorizar a profissão de economista é uma tarefa a ser compartilhada por todos os que a amamos. Cursos de Economia do Brasil, economistas atuantes, conselhos de classe, professores e alunos do curso serão devidamente compreendidos e respeitados, se todos trabalharmos por isso. Precisamos urgentemente voltar a colocar a nossa profissão dentre as escolhas para jovens que ingressam na universidade.
E se esta carta servir de reflexão para o início de uma mudança, ela terá cumprido, desde já, o seu objetivo.
Atenciosamente,
Professores do Departamento de Economia das
Faculdades Integradas Santa Cruz
A pergunta é: o que os Conselhos de Economia estão fazendo para reverter este quadro?
ResponderExcluir"Não há clareza, para o possível candidato ao curso, sobre o que um economista realmente faz." Isso resume bem a realidade nossa aqui em Montes Claros também. Acho que isso é o ínicio dos posteriores problemas. Como formar um profissional sem ao menos ter clareza do que ele faz. Aqui na Minha Universidade a quantidade de professores que se preocupam em apenas dar a sua aula naquele modelo dos anos 20 sem adpatar a realidade é desmotivante. Salvo os alunos que amam o curso e que procura em meio a isso tentar superar um pouco essa realidade. Logo tanto os alunos ( que são desmotivados, não querem ler, e reclamam de tudo e não fazem nada para mudar o seu ambiente) quanto os professores tem parcela de culpa.
ResponderExcluirLamentável a atuação dos conselhos do país inteiro. Não valorizam a profissão, não fiscalizam os trabalhos, são omissos quando os editais de concursos, com atividades específicas de economistas, aceitam qualquer formação. Além de serem sempre os mesmos dirigentes. Não existe renovação e a maioria dos presidentes está ligado a instituições públicas, ai seu interesse é exclusivamente político e não de luta pela categoria....LAMENTÁVEL.
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